Às vezes olhamos para trás não com saudade, nostalgia ou qualquer outro tipo de sentimento mais "pesado", mas como espectadores duma peça de teatro onde apenas existe o narrador. Narrador esse que conta a história de alguém, o percurso de uma personagem que acaba por se tranformar em nós. Naquilo que somos hoje. Uma personagem agora real, que em breve passará a ser, mais uma vez, fictícia.
Gosto desse jogo.
Tenho "Livros dos segredos" desde que aprendi a escrever e quando por vezes os leio (muito raramente, porque o passado deve ficar lá no sítio dele: ontem), (re)conheço mil e uma Etelvinas diferentes. São notas, compassos, acidentes, ritmos, pausas, tempos que constituem a sonata duma vida.
Podemos manter um fio condutor, mas somos sempre diferentes de ontem... Nem quero imaginar como seremos amanhã. ;)
A minha sonata dos ultimos anos, é composta por borboletas.
Tenho desenvolvido uma paixão... não, um amor (!) por estes insectos e sinto que esse amor tem sido correspondido. Encontro-as várias vezes no chão, intactas, à espera que alguém as apanhe. Aparecem-me em sonhos, no campo, na cidade (são animais cosmopolitas também), e em qualquer estação do ano! Aparecem com maior frequência quando algo na minha vida muda ou vai mudar. Se calhar não é misticismo. Se calhar estou só mais desperta, mais atenta a estes seres. Mas gosto de encantar a minha vida entregando-me sem restrições à ideia da cumplicidade entre nós.
É bom, adoça-me a boca! Alimenta-me os dias.
Curiosamente a vida une-nos cada vez mais e esta larva (sim, aínda nem cheguei à fase de crisálida) que hoje canta, vai borboletar para a Capital, como há tanto ansiava. No meio do Jardim Botânico, na Estufa do Lagartagis passarei os próximos tempos a ajudar na reconstrução daquele local.
Não é nada de especial. É apenas voluntariado, sei que me esperam dias de trabalho pesado e árduo, que tenho de controlar este tufão de entusiasmo interior e não criar as famosas "expectativas".
Mas há algo que não consigo controlar: para mim este momento é tão mágico como entrar numa fábula de encantar.
À custa desta "história toda", tenho em mim a melodia de Teresa Gentil:
Eu sonho rir contigo a ver o mar
na bicicleta blue, borboletando...
Bebericando um pó de estrelas
Se eu fico a ver o mar.
(E sim, sinto-me muito feliz. Atrevo-me a dizer: Radiante! :) )
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