CLICK HERE FOR THOUSANDS OF FREE BLOGGER TEMPLATES »

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Mais do mesmo

Não dormes. Vais dormitando ao longo de 8 horas nocturnas com períodos de sonhos e pesadelos, despertares, sonos ferrados e muita, muita agitação corporal.
Abres os olhos de manhã e nunca mais naquele dia os consegues fechar.
Ansiedade matinal perturba-te como sempre
Ligas a tv, no programa matinal com maior audiência nacional. Esperas ganhar a tal árvore das patacas (mas sabes o que fazer com semelhante fortuna?!)
Liga-te a tua mãe. Não quer nada, só falar.
Tomas o pequeno almoço em jeito de ritual como sempre: Leite com café primeiro, depois a torrada e a fruta se não te tiveres esquecido de a comprar no dia anterior.
Ligas-te à net horas e horas sem fim em busca de algo que não sabes o que é.
Liga-te a tua mãe. Desta vez quer saber o que estas a fazer
Limpas mais uma vez a casa. Incomoda-te: Está sempre imunda e desarrumada.
Enquanto isso, sonhas com uma empregada de limpeza.
É tempo da banhoca: o armário cheio de roupa que já não te serve lembra-te outros tempos.
Procuras algo que te faça sentir bem. Nada te serve.
Olhas-te ao espelho.
Pensamentos, paranoias, ideias, pensamentos, preconceitos, imaginação
Banho: água para lavar o corpo e esperas que a tua alma se lave também.
Imaculada
Já não há tempo para fazer o almoço. Lixo na mão, ecoponto é a direcção
Telefonas a um ou outro indivíduo, na esperança de sentir alguma emoção sincera, alguma força.
Mais do mesmo.
20 minutos de caminhada diária, pelas ruas pedonais de há quase 3 anos....
-Bom dia menina!
-Bom dia minha senhora!
-Vai uma frutinha?
-É um pingado, não é?
-Ai o caozinho é seu?! Então pode deixar entrar, que não há mal
Mais do mesmo, sempre igual
Liga-te outra vez a mãe. Quer contar que encontrou o senhor J que já não via desde o tempo em que.... e já desligaste daquele mundo
Liga-te também quem não queres atender. A persistencia deles não será maior que a tua teimosia.
Resolves não atender, mais uma vez.
Mais do mesmo
Entras no teu fiel bunker de paredes verde hospital. Não sebes o tempo que faz lá fora, não tens com quem falar, o telefone não toca, a net é a tua companhia.
Mais 4 horas do dia, só e calada
E com estas, já lá vão 10 desde que os teus olhos se abriram.
Cantas um bocado para tentar recuperar a voz. Às vezes, custa-te mesmo a conseguir tirar algum som que não saia rouco.
As tuas cordas vocais estão sempre frias. Não têm porque vibrar.
Mergulhas nos teus pensamentos e lês aquilo que os outros escolhem partilhar.
Sonhas com vidas que não são a tua.
Aquela que já nem reconheces, que já não sabes se realmente vives ou sobrevives.
Afundas-te nas tuas paranoias e comparas a tua vida ao bunker que tão fielmente te abriga desde há 3 anos atrás.
Queres mudar. Queres mudar muito. Mas estás tão cega que não consegues perceber sequer o lado para que te hás de virar.
Tentas tudo à maluca, num desespero de acabar com este isolamento.
Corre tudo falhado e não consegues ver o porquê.
Mais do mesmo
Tens quatro paredes à tua volta e nenhuma janela que te faça entrar luz. Atiras-te contra elas, com todas as forças que aínda tens. Tentas saír dali. Queres saber a temperatura lá fora, a cor do céu, falar, falar, falar até teres uma justificação para ficares sem voz.
A tua pele é uma escara só.
Picas o ponto e já são horas de voltares para casa.
-Boa noite menina!
-Boa noite minha senhora!
- Então quantos pães é que vão ser desta vez?
- Obrigado, até amanhã.
Pelo caminho, aínda tens a sorte de trocar meia duzia de palavras com uns velhotes ansiosos por fazerem vibrar aquelas cordas vocais, também els adormecidas.
Ouve-los com sorrisos, porque estás realmente contente e sentes que estás a fazer algo por alguém.
Procuram-te também os inadaptados da tua cidade. Aqueles a quem os ditos "normais"chamam de malucos. Aqueles em quem tu temes um dia vir a transformar-te.
Ouves mais uma ou outra história de vida, que te faz sentir mesmo sortuda por teres uma mãe que te liga, no mínimo 3 vezes por dia.
Chegas a casa e abres o correio.
Nem uma carta. Já ninguem escreve cartas a ninguém... Lembras-te das imensas cartas de 3 páginas que recebias em tempos idos, escondidos no fundo das tuas memórias mais doces.
Sobes as escadas a pé e a luz apaga-se a meio.
É sempre igual, mas tens sempre esperança de conseguir chegar lá a cima com luz.
Abres a porta e a casa fede. Por mais janelas abertas, limpezas profundas, insensos e cheirinhos de ligar à corrente, a casa fede sempre.
Ligas a tv, não dá nada.
Ligas o radio e poes um cd que, provavelmente, não ouviste mais do que 3 vezes na tua vida.
Lanchas e perdes a fome para jantar.
A tua mãe liga-te outra vez, desta vez porque te esqueceste de fazer algo.
Deitas-te na cama e pegas noutro livro a ver se é desta que chegas ao fim.
Lembraste dos tempos em que os devoravas de um só trago. Em que faltavas a testes, para saber o fim. Agora, já nem isso te interessa.
Voltas a afinar a voz e a pensar o que hás de fazer a seguir.
30 000 pensamentos atacam-te de uma vez, nem um consegue ficar retido.
Olhas-te ao espelho outra vez e procuras encontrar-te no reflexo
Mas os teus olhos já não são os mesmos. Estão foscos como os vidros das lojas novas que por aí vês.
Procuras reinventar-te mas já não sabes do que és capaz.
Já são 24h e é hora de ires dormir...
Ansiedade do dia a acabar e do desperdício que foi
2 horas para adormeceres, para mais horas de dormitanço.
Acordas cansada, para o que não te apetece.

2 comentários:

Joana Amoêdo disse...

Parece um compasso de espera. Gostei bastante do expressionismo das tuas palavras:-)

Etelvina disse...

obrigada pela critica :D vale muito tendo em conta que adoro a forma como escreves :D
obrigada